As festas juninas têm início no dia 19 de março, dia de São José, justamente quando se dá o plantio do milho, cereal básico de toda a culinária do período junino. E a partir de então percebe-se a movimentação de artistas que se dedicam, como compositores e intérpretes, ao forró, xaxado, coco e ciranda, divulgando suas músicas, seus grupos de danças típicas e seus shows. Paralelamente ao trabalho dos produtores culturais, a juventude também inicia o natural burburinho de ensaios de quadrilhas - a dança típica do ciclo junino.
ORIGEM
Originária das velhas danças populares das áreas rurais da Normandia e da Inglaterra, a quadrilha chega ao Brasil através dos mestres franceses Milliet e Cavalier, como uma das danças de salão preferidas pela nobreza do século XVIII e XIX.
O pesquisador Lula Gonzaga diz textualmente que a quadrilha "tornou-se uma das mais animadas danças de salão da Europa, nos Estados Unidos e no Brasil durante o século XIX. Esta dança palaciana teve gosto na França no século XVIII, sendo muito popular na era napoleônica. Foi registrada na Inglaterra em 1815 e em Berlim em 1820. A data desta manifestação no Brasil foi possivelmente em 1820, quando sua presença era notada em festas palacianas em várias comemorações e até no carnaval.
No Brasil, os grupos da elite imperial, que procuravam acompanhar o gosto europeu em termos de moda, leitura, danças, e até comida, trouxeram o costume daquele continente no início do século XIX."
Esses costumes popularizaram-se de tal forma e em toda a parte, que perderam um pouco de sua pose aristocrática, saindo dos salões palacianos para ruas e clubes populares.
DANÇA PALACIANA
Enquanto dança palaciana, de elite, a Quadrilha tinha cinco partes com marcação em francês. Lula Gonzaga nos passa as informações mais importantes:
1ª parte: La chaine continue des dames (a corrente contínua de damas).
2ª parte: La nouvelle Traine (a nova corrente).
3ª parte: La corbeille (a cesta de flores).
4ª parte: Double pastourelle (dupla pastorinha).
Essas partes eram no andamento
Alegro e
Alegretto e finalmente, a
5ª parte:
Boulangère (padeira) ou Casescroise (quebrado-cruzado). A quadrilha terminava por "
En avant" geral ou "Galope", mais tarde modificado como polca, mazurca ou valsa.
Conforme Roberto Benjamin, "a quadrilha, hoje associada ao
casamento matuto vai se transformando em um folguedo de natureza complexa. O casamento matuto é a representação onde os jovens debocham com muita liberdade e malícia da instituição do casamento, da severidade dos pais, do sexo pré-nupcial e suas consequências, do machismo, etc. Tal representação crítica acaba por reforçar os papéis sociais e os valores da moral tradicional.
Um aspecto deve ser evidenciado - os festejos juninos são a festa da adolescência, e da juventude, talvez ainda como uma reminiscência dos ritos de fertilidade".
CASAMENTO MATUTO. Foto: Flávia Lacerda |
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Personagens
O casamento matuto é representado pelos participantes da quadrilha. Os personagens são:
os noivos, os
pais do noivo, os
pais da noiva, os
padrinhos e as
madrinhas, o
padre, às vezes, o
sacristão, o
delegado, às vezes, com alguns
soldados, o
juiz com o
escrivão; os demais integrantes do grupo são
convidados. Incorporam também uma
rainha e
princesas do milho ou da espiga, escolhidas através da venda de votos, que é uma forma de angariar recursos financeiros para cobrir as despesas.
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COREOGRAFIA
ANAVANTUR (EN AVANT, TOUT) - cavalheiros tomam as damas e andam de mãos dadas até o centro do salão, encontrando-se com a fila da frente.
ANARRIÊ (EN ARRIÈRE) - os pares, ainda de mãos dadas, voltam em marcha-ré até o ponto em que estavam e se separam, ficando cavalheiros em frente às damas.
TRAVESSÊ DE CAVALHEIROS (TRAVESSER) - as damas ficam paradas e os cavalheiros atravessam o salão parando em frente à dama do outro par, cujo cavalheiro faz também o mesmo. Ao se encontrarem com as damas dos pares da frente, dâos-se os braços, fazem duas meias-voltas, indo depois para seus lugares.
TRAVESSÊ GERAL - as duas filas atravessam o salão ao mesmo tempo, cruzando-se no centro pela direita. Ao chegarem aos lugares voltam a ficar de frente para o par.
BALANCÊ COM O PAR VIS A VIS - seguem somente os cavalheiros e ao se encontrarem com as damas, vão entrelaçando o braço direito no braço direito da dama. Dão duas voltinhas e retornam a seus lugares, ficando de frente para o par.
BALANCÊ COM SEUS PARES - cavalheiro de frente para sua dama. Ambos fazem o balanceio, sem sair do lugar.
GRANDE CHÈNE (GRAND CHAÍNE) CRECHÉ OU GARRACHE - a dama dá a mão direita ao cavalheiro e este a mão esquerda à direita de outra dama e passam a trocar de mãos e de dama até que voltam a encontrar os seus pares.
SANGÉ (CHANGÊ DE DAME) - os cavalheiros rodam as damas pela sua esquerda, passando-as para trás e a cada sinal do marcador, largam as mãos das mesmas e vão pegar as da sua frente até chegarem aos pares certos.
BEIJA FLOR - os pares seguem até o meio do salão, as damas estendem a mão direita para o cavalheiro beijar.
CORTESIA - os cavalheiros dão um passo para trás sem largar a mão da dama, ficando semi-ajoelhados. As damas dão duas voltinhas pela esquerda, os cavalheiros levantam-se e aguardam o próximo passo. | | CRUZ DE MALTA - os casais ímpares continuam rodando e os números pares vão-se infiltrando na roda, segurando-se nos punhos e formando rodas maiores. Os cavalheiros seguram nas mãos dos cavalheiros e as damas seguram nas mãos das damas, formando outro braço da cruz. Continuam rodando ao ritmo da música.
PASSEIO DOS NAMORADOS - o par guia sai com sua dama pela direita, o par seguinte sai pela esquerda e os demais vão imitando. Quando se encontram novamente, formam uma fila única, depois uma roda no meio da sala.
CAMINHO DA ROÇA - damas na frente, cavalheiros atrás, percorrem todo o salão, voltando aos seus lugares.
AÍ VEM CHUVA - todos fazem meia volta, marchando em sentido contrário.
É MENTIRA - Nova meia volta. Continuam marchando em roda.
CESTINHA DE FLORES - as damas levantam os braços, passando-os por cima dos ombros com a palma das mãos para cima. Os cavalheiros que estão atrás seguram as mãos da dama e continuam a marchar.
A PONTE CAIU - os cavalheiros sem largar as mãos das damas, fazem meia-volta e seguem a marcha na frente das damas.
PONTE NOVA - todos fazem meia volta pela direita sem largar as mãos das damas, continuam a marchar.
DAMAS AO CENTRO - damas formam a roda e os cavalheiros outra, por fora. Rodam todos no mesmo sentido, para a esquerda.
ARCO-ÍRIS - damas passam a roda para a direita, ficando as duas filas rodando em sentido contrário.
DAMAS EM RODA - os cavalheiros entram para dentro da roda sem largarem as mãos. Damas fazem a roda por fora e todos começam a rodar pela esquerda, procurando seus pares.
OLHA O TÚNEL - o par guia dá as mãos, levantando-as à altura dos ombros. O par próximo ao guia passa por baixo, e coloca-se ao lado, na mesma posição. Todos os demais pares fazem o mesmo.
CARACOL - os pares fazem fila indiana e a dama do par guia começa a marcha em direção ao centro do salão. Quando o caracol estiver bem unido, todos esperam a ordem do marcador. |
FIM DE FESTA
As opiniões divergem bastante, entre os pesquisadores e até entre os organizadores de quadrilhas, mas o que importa, e independente da evolução e dinâmica que hoje se detecta no Ciclo Junino, é que a Festa do Fogo ainda aglutina, ainda provoca o sentimento de comunidade, de integração e, o que é mais importante, o sentimento de alegria, onde a dança, os gestos, o sorriso, a música - seja ela eletrônica ou com orquestra tradicional - determinam o jogo, a brincadeira, tão necessários à alma do ser humano, seja numa representação caricatural, seja ela trad