Separar também é preciso. Há muito plástico, papel, vidro e metal sendo atirado nos sacos de resíduos orgânicos ? quando não a céu aberto ?, inviabilizando ou dificultando o reaproveitamento. Gravíssimo é o comprometimento do lençol freático provocado pela decomposição do lixo tóxico: pilhas, baterias, lâmpadas, agrotóxicos, remédios vencidos, metais pesados, embalagens de inseticidas etc. Além das águas subterrâneas, está comprometida boa parte das águas dos nossos rios e mananciais. Estudo recente da ONU é enfático ao afirmar que “mais pessoas estão morrendo de água contaminada e poluída do que todas as formas de violência, inclusive guerras”.
Ainda me encanta a espontânea adesão dos curitibanos quando da implantação da coleta seletiva, denominada Lixo que não é lixo, em 1989, tendo sido no ano seguinte laureada pela ONU. Jaime Lerner e sua equipe investiram o melhor de si ? em profícua catequese ? junto à população através da mídia e junto aos alunos em visita às escolas. O aterro sanitário da Caximba, também instalado em 1989, recebe hoje 2500 toneladas de lixo por dia, em cuja composição tem-se uma parte de lixo reciclável, que ali é depositado porque o município não separou.
Os índices de reaproveitamento do lixo são incertos, pois há recolhimento deste por parte dos carrinheiros, uma categoria não organizada e de difícil mensuração. Verdadeiros heróis da reciclagem ? um número que varia de 5 000 a 10 000 na capital paranaense –, os catadores têm nessa atividade a única alternativa de sobrevivência. Causam irritação em muitos motoristas pela lentidão que provocam no trânsito ao conduzirem carrinhos com peso médio de 130 kg. Com uma receita diária de 10 a 20 reais, exercem um nobilíssimo trabalho, pois, de acordo com a Gazeta do Povo (20/10/09), são responsáveis pela coleta de 92% do material reciclável, sendo que apenas 8% são recolhidos pelos caminhões do Lixo que não é lixo.
Sempre oportunas são as palavras de uma síndica: “muitos condôminos não separam o lixo. Faço isso com os meus funcionários e doo para os catadores. É uma ação de respeito à natureza e tem um significativo valor social”. Isso mesmo: separar o lixo é um ato de cidadania e consciência ambiental. Não basta uma atitude compassiva, quando a solução é sermos proativos.
É irônico: nós, humanos, que nos proclamamos inteligentes, somos os únicos a comprometer o equilíbrio natural, em nossa insensata marcha hedonista e consumista.
Estamos muito próximos ? numa visão compartilhada por Fritjof Capra e James Lovelock ? de atingir o “ponto de não retorno” da destruição da espécie humana.
Fonte: Site nota 10
Artigo de Jacir José Venturi (Diretor de escola e mentor do Amo Curitiba)
Nenhum comentário:
Postar um comentário