segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

BRINQUEDO – METAFORIZAÇÃO DO MUNDO
Ao brincar, a criança não realiza apenas um gesto simples de lazer ou uma atividade mecânica de mero entretenimento. Quando a criança brinca, procede à elaboração de seu próprio mundo, aquele mundo mágico construído numa perspectiva de iconicidade do real sentido e vivido na atmosfera de um universo imaginário que nasce do sonho e da fantasia, as fontes maiores da criação infantil. Cada atitude da criança, em qualquer fase de seu desenvolvimento, encerra uma expressão de autêntico ludismo. O mundo que se lhe afigura é uma realidade dinâmica que anima a constante busca da construção de si mesma. Nasce-lhe o conhecimento, ato pelo qual assimila os objetivos e os representa no espírito, através da interação com o meio. Conceber o procedimento da criança, excluindo-lhe a natureza lúdica, é negar-lhe de forma brutal sua natureza infantil. Quando a criança brinca, vive e conhece, idealiza e sonha num envolvimento imaginário que desafia limites. É nesse processo de idealização de seu maravilhoso mundo que arquiteta a metaforização da vida, desrealiza a crueza da realidade e escreve, com a visão mediúnica do sábio, o inacabado poema da existência, num rasgo de sabedoria, simplicidade e eloqüência desafiam a estultice dos adultos, sem alimentar preocupações com as contingências do mundo exterior. Na edificação desse universo, a fantasia é a fonte perene de inspiração e o brinquedo o instrumento eficaz e significativo para a operacionalização da obra grandiosa arquitetada com a argamassa do sonho. Obreira do sonho, não há como lhe impor o brinquedo como coisa pronta e acabada, desconsiderando sua preferência decorrente de seu envolvente imaginário. Para a criança, o brinquedo não possui feição definitiva, aparência própria nem caráter imutável. O dinheiro, por exemplo, tanto pode ser simbolizado por uma folha de árvore como por uma carteira de cigarros vazia. O cabo de vassoura poderá francamente servir de cavalo, de espada, de espingarda ou de cajado na simulação do caminhar de um velhinho, contanto que assim ela os imagine, para satisfação de seu ideário. Cumpre distinguir os chamados brinquedos educativos dos verdadeiros brinquedos de que a criança gosta. Para mim, aqueles são muito mais instrumentos pedagógicos criados pelos pedagogos para facilitação do processo de ensinoaprendizagem. O verdadeiro brinquedo é aquele que é fruto da criação e transformação da criança. É fruto de sua imaginação e sua serventia está diretamente ligada ao modelo de construção do mundo e da vida por ela idealizados.Não sou contra a indústria de brinquedos desde os mais simples aos mais sofisticados. O que desaceito é a fabricação de armas de brinquedo para a brincadeira de arma. Um revolver, uma metralhadora não servem para outra coisa senão para matar. Não se ensina a paz e a tranqüilidade com formas de violência. Não se consegue ensinar a virtude com a pratica do vício. Nem se desenvolve a inteligência com a estultice dos brutos. Quem fabrica e distribui armas de brinquedo e brinquedos de arma nada mais faz a não ser incentivar a perversidade. O espírito lúdico da criança não pode ser substituído pela ganância e estupidez comercial do adulto.

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