segunda-feira, 3 de maio de 2010

Educação tipo “Fast Food”




Vivemos um momento histórico muito importante e ao mesmo tempo muito complicado. Nunca na história da humanidade tivemos tanto acesso à informação e ao conhecimento como agora. Para ficarmos apenas num exemplo, há 50 anos, para termos acesso à carne de frango, a maioria das pessoas precisava preparar a terra, plantar o milho, criar o frango para depois comer a carne. Atualmente, basta ir ao mercado.

A educação há 50 anos era mais ou menos parecida com a atual, pelo menos na parte formal. Todos os alunos deveriam ir à escola, estudar, fazer provas, passar de ano e, assim, continuava o ciclo. Ocorre que nos últimos anos, com o maior acesso à informação, a educação passou a ser confundida com escola que deve ser apenas a parte formal da educação. A sociedade, na ânsia de dar aos filhos tudo o que não teve, delegou à escola toda a educação, inclusive a parte que cabe à família, como valores, respeito e limites. Assim, formou algumas gerações que confundem viver com consumir, viver com adultos a seu dispor.

O sistema trabalha no mesmo sentido, com a seguinte visão: o aluno tem o direito de passar de ano, se não passa a culpa é da professora, da escola, do governo. Mas, com o passar do tempo, a família percebe que não deu conta, que seu filho não aprendeu o necessário para continuar os estudos, que seu filho não tem hábito de estudar, não respeita os pais, os mais velhos, ou seja, tem muita dificuldade para viver em sociedade. O governo percebe que 50% das crianças de 10 anos não estão alfabetizadas. E aí começam as fórmulas mágicas, os aligeiramentos, as provas, e o mais nobre exemplo: o ENEM, uma avaliação que deveria servir de parâmetro para avaliar a educação básica, que foi transformado em fórmula mágica para entrar na universidade pública, para certificar concluintes do ensino médio que não cursaram, para “ranquear” e comparar as escolas.

O ENEM é um bom exemplo da educação “fast”, e diz mais ou menos assim: Não importa se você estudou, se tem conhecimento. A prova é o aligeiramento que vai colocar você na faculdade. E o conhecimento? Bem, pouco importa. A prova e a maneira da formulação das questões consegue num passe de mágica separar o bom estudante do ruim.

Para resolver o problema da não alfabetização, importamos um modelo que funciona bem em Cuba, e não importa se você não aprendeu até os 14 anos a ler e escrever, basta usar o método infalível cubano que resolvemos o problema. Condizentes, as famílias, ao perceber que não deram conta da educação de seus filhos, procuram fórmulas mágicas, escolas com métodos rápidos, que ensinam e preparam para passar no vestibular ou no ENEM, pois, se entrar na universidade, está tudo resolvido.

A sociedade não percebe ou não quer perceber que o fato de entrar na universidade nada quer dizer, não entende por que 40% dos alunos abandonam a universidade. A sociedade precisa perceber e aceitar o seu papel de orientar os jovens, que muitas vezes vai contra as facilidades do sistema.

Texto de Ademar Batista Pereira, presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR), enviado ao Jornal Virtual.

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